Liderança juvenil e conscientização sobre a coleta de lixo no quilombo de Alto Alegre, em Fortaleza

Luiz Fernando da Silva, 16 anos.

Liderança juvenil e conscientização sobre a coleta de lixo no quilombo de Alto Alegre, em Horizonte (CE)

 

O estudante Luiz Fernando da Silva, de 16 anos, foi um dos 99 participantes do encontro promovido pelo UNICEF sobre “Mudanças Climáticas, Alimentação Saudável e Arbovirose”, em Fortaleza (CE), nos dias 16 e 17 de agosto. Remanescente da comunidade quilombola de Alto Alegre, do município cearense de Horizonte, ele encontrou no Núcleo de Cidadania de Adolescentes (NUCA) um espaço de diálogo com outros meninos e meninas da região. Foi nesse contexto que o adolescente se engajou nas ações do #EntreNoClimaUNICEF, participando de rodas de conversa online e presenciais sobre alimentação saudável promovidas pela APDMCE e do I Encontro Estadual de Adolescentes pelo Clima, realizado no Parque do Cocó, em janeiro deste ano, na capital cearense.

Luis Fernado da Silva, 16 anos.

 

Além da atuação no NUCA, Fernando participa do Programa Agente Jovem Ambiental (AJA), iniciativa implementada pelo Governo do Ceará com foco na atuação de adolescentes e jovens em projetos socioambientais dos 184 municípios do estado. “O trabalho do AJA é conscientizar as pessoas a cuidar do nosso meio ambiente, mas também fazer ações como o plantio de mudas”, explica. Matriculado no segundo ano do ensino médio na Escola Quilombola Antônia Ramalho da Silva, em Alto Alegre, ele conta que a coleta de lixo está entre os principais gargalos ambientais da sua comunidade. “Muita gente deixa (os resíduos) em qualquer lugar. Quando alguém joga o lixo (fora do local adequado), já polui o ar que a gente respira, principalmente para as pessoas que têm problemas respiratórios”, reflete, avaliando que o #EntreNoClimaUNICEF, a partir das ações do NUCA, proporciona importantes momentos para debater e pensar soluções locais. 

O adolescente integra uma das famílias de descendentes de Negro Cazuza, que deu início, por volta de 1890, ao quilombo onde Fernando vive ao lado da mãe, funcionária pública, e do pai, que é pedreiro. Cazuza foi um homem negro que chegou escravizado à Barra do Ceará, bairro da orla da capital cearense, e fugiu para o município de Pacajus, limítrofe a Horizonte, ambos na Região Metropolitana de Fortaleza. Ele percorreu um trajeto de mais de 50 quilômetros a pé, sem conhecer o destino de origem. Lá chegando, foi capturado e brutalmente castigado. Ao ser liberto, casou-se com uma mulher indígena paiacu, dando origem à família da qual se origina Fernando, quatro gerações depois. A comunidade conta hoje com a Associação dos Remanescentes de Quilombos de Alto Alegre e Adjacências (Arqua), que mantém o Centro Cultural Quilombola Negro Cazuza, ponto de visita para estudantes, pesquisadores e turistas. 

Entusiasta das atividades do NUCA, Fernando encontrou no Núcleo um espaço de diálogo com outros meninos e meninas do município. “É muito bacana conviver com outros jovens e conhecer pensamentos semelhantes aos nossos, outros diferentes… Entrei no NUCA no ano passado (2022) e logo fui tendo contato com outros projetos”, diz. Entre os temas debatidos no município, ele destaca o debate sobre diversidade sexual, explicando que muitos adolescentes ainda enfrentam a exclusão social e familiar ao se reconhecerem como sujeitos LGBTQIAP+. Das ações promovidas pelo UNICEF, também ressalta a importância das orientações sobre oportunidades de estágio e acesso ao primeiro emprego, iniciativas implementadas a partir do programa 1 Milhão de Oportunidades (1MiO).