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Epidemia de Sarampo e baixa cobertura vacinal são desafios na Amazônia Legal


Casos crescentes de Sarampo na região, atrelados ao contexto de pandemia e à falta de procura por vacinas, levam municípios a mudarem estratégias para garantir vacinação


O contexto da pandemia de COVID-19 trouxe muitas restrições sociais, e com ela o índice de vacinação de crianças, no Brasil, que já vinha registrando queda nos últimos anos, reduziu drasticamente, em 2020. Do ponto de vista epidemiológico, as crianças são consideradas multiplicadoras de vírus respiratórios, e até o final de agosto de 2020, por exemplo, o Brasil tinha 7.800 casos confirmados de sarampo, vacina que integra o calendário básico obrigatório de imunização. A informação vem do Programa Nacional de Imunizações (PNI), cuja meta anual brasileira é vacinar entre 90% e 95% das crianças com até um ano de vida.

Izabely Rodrigues, 16 anos, no bairro do Elesbão em Santana (AP). A adolescente recebeu a vacina de bloqueio após contrair sarampo no município.  Crédito: Arquivo pessoal
Izabely Rodrigues, 16 anos, no bairro do Elesbão em Santana (AP). Crédito: Arquivo pessoal

No município de Santana, no Amapá, Isabely Rodrigues, 16 anos, mora com os pais  e mais quatro irmãos, no bairro do Elesbão. Nas últimas semanas, ela começou a apresentar febre e dor na garganta. Dois dias depois, apareceram as erupções no rosto e no corpo. Em seguida, seu pai também apresentou os sintomas. A família buscou as unidades de saúde do município e logo recebeu o diagnóstico de sarampo e a vacinação de bloqueio. 

A coordenadora de imunização de Santana, Monique Duarte, além de relatar o caso da adolescente, afirma que os aumentos no número de casos de sarampo levaram a equipe de saúde a firmar parceria com o Estado, visando melhorar os índices de cobertura vacinal, especialmente em territórios que fazem fronteira com outros municípios. Devido à pandemia, Santana passou 20 dias com a sala de vacinação fechada, e a população ainda tem receio em procurar o espaço.  

O índice de cobertura vacinal não passou de 61% entre janeiro e julho deste ano, no Brasil, e com isso cresce o risco de retorno de doenças já erradicadas, como é o caso do sarampo, -- só em 2018, foram 10 mil casos registrados no país. 

Vacina em casa - As consequências da pandemia exigiram adaptações na atuação das equipes municipais para garantir serviços fundamentais, como a vacinação. Ao fazer o trabalho, os profissionais da linha de frente não descuidam das medidas de segurança, adotando o uso de máscaras e luvas (Foto 1). É o caso de Andreia Vasconcelos, enfermeira há nove meses da Estratégia Saúde da Família (ESF), em Santana. Diante da pandemia, a profissional viu sua rotina mudar, especialmente as atividades relacionadas à imunização. 

 

A enfermeira Andreia Vasconcelos está no canto direito segurando o isopor durante mutirão de vacinação em Santana (AP). Crédito: Foto cedida pelo município.
A enfermeira Andreia Vasconcelos está no canto direito segurando o isopor durante mutirão de vacinação em Santana (AP). Crédito: Foto cedida pelo município.

As vacinas, que antes eram aplicadas dentro das unidades básicas de saúde (UBS), passaram a ser feitas em frente às casas. Para garantir a adesão da comunidade onde atua, Andreia solicitou aos agentes comunitários de saúde que criassem um grupo de whatsapp com a comunidade e, pelo aplicativo, mobilizassem para os mutirões. Segundo Andreia, o diferencial para o êxito das ações está na escuta e no conhecimento da comunidade com a qual trabalha. “Eu sempre escuto os meus ACS porque eles conhecem a comunidade mais do que eu. Eles trabalham há 15, 20 anos nessa comunidade. Então a informação que eles me trazem é muito importante ”.  

Contexto - A imunização é uma das intervenções de saúde pública mais assertivas e econômicas, conseguindo salvar cerca de 2 a 3 milhões de vidas a cada ano. Como resultado direto dessa ação, o mundo está mais perto de erradicar a poliomielite, e as mortes por sarampo - uma das principais causas de óbitos de crianças – reduziram em até 73% em todo o mundo entre 2000 e 2018, salvando cerca de 23,2 milhões de vidas de crianças. No entanto, o surgimento da pandemia de Covid-19 ameaça reverter esse progresso, limitando severamente o acesso a vacinas que salvam vidas. 

O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e Organização Mundial da Saúde (OMS) alertam para um declínio alarmante no número de crianças que estão deixando de receber vacinas vitais. Dados preliminares para os primeiros quatro meses de 2020 apontaram para uma queda substancial no número de crianças que completam três doses da vacina contra difteria, tétano e coqueluche (DTP3). É a primeira vez em 28 anos que o mundo vê redução na cobertura de DTP3 – o marcador da cobertura de imunização dentro e entre países.

A diretora executiva do UNICEF, Henrietta Fore, afirma que a pandemia fez da vacinação de rotina um desafio assustador. “Precisamos evitar uma deterioração adicional na cobertura da vacina e retomar com urgência os programas de vacinação antes que a vida das crianças seja ameaçada por outras doenças. Não podemos trocar uma crise de saúde por outra”, afirma.

Cerca de 33% dos pais de crianças de até 5 anos atrasaram as vacinações por conta da pandemia ou não sabem como está a situação da vacinação, revelou pesquisa feita pelo Ibope Inteligência, a pedido da empresa Pfizer, em julho de 2020. Essa porcentagem corresponde a um milhão de crianças não vacinadas, segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), pediatra Juarez Cunha.

Campanha nacional - Com foco na atualização das cadernetas de crianças e adolescentes e na vacinação de crianças contra a poliomielite, o governo federal lançou, em outubro, a Campanha Nacional de Vacinação contra a Poliomielite e de Multivacinação. O objetivo é imunizar mais de 11,2 milhões de pessoas e conscientizar a população sobre a importância da vacina para a proteção contra diversas doenças.

O público-alvo da campanha contra poliomielite são crianças de 1 ano a menores de 5 anos, que devem receber a Vacina Oral de Poliomielite (VOP), desde que já tenham recebido as três doses da Vacina Inativada de Poliomielite (VIP), do esquema básico de vacinação. Crianças menores de 1 ano (de 29 dias até 11 meses) devem ser vacinadas seletivamente com a VIP, conforme as indicações do calendário nacional de vacinação.

No município de Novo Aripuanã, no Amazonas, a Secretaria Municipal de Saúde realizou a Campanha Nacional de Multivacinação nas zonas rurais para adolescentes (menores de 15 anos) e de poliomielite para crianças (1 a menores de 5 anos). A campanha está sendo intensificada na zona rural e zona urbana do município de Novo Aripuanã. Tendo como as ações a Busca Ativa Escolar das crianças em domicílio, divulgação em meios de comunicação, como em rádio, Facebook, Whatsapp e Instagram, palestras educativas e outros.

No Pará, diversos municípios também se engajaram na campanha nacional de multivacinação e realizaram a Semana do Bebê, a fim de conscientizar e alertar pais e responsáveis sobre a importância da vacinação de crianças e adolescentes. Em Oriximiná, o Dia D da campanha aconteceu em 24 de outubro, com vacinação contra a Paralisia infantil (Poliomielite); e vacinas de HPV e Meningo para os adolescentes até 15 anos. no município Porto de Moz, com uma programação virtual, profissionais da saúde e assistência promoveram a 6ª Semana do Bebê.

As vacinas ofertadas no SUS são: BCG (tuberculose); rotavírus (diarreia); poliomelite oral e intramuscular (paralisia infantil); pentavalente (difteria, tétano, coqueluche, hepatite B, Haemophilus influenza tipo b - Hib); pneumocócica; meningocócica; DTP; tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola); HPV (previne o câncer de colo de útero e verrugas genitais); além das vacinas contra febre amarela, varicela e hepatite A. Neste ano, a vacina Meningo AXWY passou a integrar o SUS . Ela que protege contra meningite e infecções generalizadas, causadas pela bactéria meningococo dos tipos A, C, W e Y.
 

Texto: Hanne Assimen e Erlane Santos, Instituto Peabirú.