Daniel mais perto do ensino médio, em busca de seus sonhos

Adolescente vestindo uniforme escolar está sentado em cadeira na primeira fileira da sala de aula, se vira para trás e sorri para colegas de turma. Ao fundo, uma lousa preenchida com lições para os alunos.

Daniel mais perto do ensino médio, em busca de seus sonhos


Com o apoio da escola, o adolescente está revertendo o atraso escolar, aprendendo bastante, e já faz planos para ingressar no ensino médio na idade certa

 

Adolescente vestindo uniforme escolar está sentado em cadeira na primeira fileira da sala de aula, se vira para trás e sorri para colegas de turma. Ao fundo, uma lousa preenchida com lições para os alunos.
UNICEF/BRZ/João Laet

 

O sorriso solto de Daniel Wendel, de 14 anos, se abre na sala de aula. Em casa, com o avô e o irmão, a atitude tímida prevalece. Mas é só chegar à escola que o adolescente se solta. Participativo, senta na primeira fila e responde animado às orientações da professora, que coloca questões no quadro e propõe: “vamos responder todos juntos?”. A turma, bastante engajada, discute em conjunto as questões de língua portuguesa, e Daniel aproveita esses momentos para tirar dúvidas.

O adolescente e seus colegas fazem parte de uma turma voltada a quem está em atraso escolar. É a chamada turma de correção de fluxo. Nela, os estudantes têm acesso a uma metodologia pensada com base nas dificuldades e potencialidades de cada um dos meninos e meninas em atraso escolar para que possam avançar nos estudos, cursando dois anos escolares de forma combinada.

Em todo o Brasil, 6,4 milhões de estudantes das escolas estaduais e municipais têm dois ou mais anos de atraso escolar, e correm risco de abandonar os estudos. Para reverter esse quadro, os 1.924 municípios participantes do Selo UNICEF se comprometeram a adotar ações que busquem reduzir a distorção idade-série e o atraso escolar, garantindo a cada estudante o direito à educação adequada.

Como resultado, eles avançaram mais do que a média do País. No Brasil, entre 2016 e 2019, o percentual de estudantes dos anos finais do Ensino Fundamental público com dois ou mais anos de atraso escolar caiu 10,7%. Nos municípios da Amazônia e do Semiárido, a queda foi de 11,9%. Já nos municípios que participaram do Selo UNICEF, a redução foi maior: 12,5%. E nos municípios que foram certificados com o Selo UNICEF, foi maior ainda: 15% (confira aqui).

A Escola Estadual Severino Gonçalves Cavalcante, em Boa Vista, Roraima, reúne cerca de 160 estudantes em seis turmas de correção de fluxo, incluindo a classe de Daniel. Ela é uma das quinze escolas selecionadas pela Secretaria Estadual de Educação para a estratégia Trajetórias de Sucesso Escolar, iniciativa do UNICEF em parceria com o Instituto Claro. Entre os 160 estudantes, 160 histórias de atraso escolar. No caso de Daniel, a oportunidade de avançar nos estudos significou esperança. 

Adolescente vestindo uniforme escolar está em pé sorrindo ao lado de um senhor de idade sentado numa cadeira, que veste bermuda jeans, camisa azul desbotada e chapéu branco com fita preta. Eles estão na sala de uma casa humilde, com parede de tijolos à mostra e chão sem revestimento. Do lado direito, encima de uma mesa de madeira está um objeto que parece ser uma cama virada. Na parede atrás deles, estão pendurados um capacete vermelho, um boné preto e um saco plástico
UNICEF/BRZ/João Laet

Superando os desafios

Diferentes fatores levam ao atraso escolar Na casa da família de Daniel, o avô sempre incentivou o menino a seguir estudando em todas as circunstâncias. Antonio Izidoro, que já criou 18 filhos, cuida também de Daniel “desde 24 horas de nascido”, como ele mesmo diz. Antonio estudou até a 3º  ano do ensino fundamental, mas quis um futuro diferente para os netos, e por isso sempre priorizou a educação.

Porém, no 5º ano do ensino fundamental, a trajetória do Daniel tomou um rumo inesperado, quando passou por um momento delicado ao perder a mãe. De repente, a escola ficou em segundo plano. “Ele ia pra escola, mas voltava. Depois, ficou alguns dias sem ir. Chegava lá, começava a dormir, aí vinha embora para casa”, relembra o avô. Foi um momento difícil para a família, que refletiu no rendimento escolar do menino, e resultou em reprovações.

Ao chegar à escola em 2019, Daniel estava com dois anos de atraso escolar. Por isso, ele foi colocado na turma de correção de fluxo, em que teria mais chance de avançar.

Apesar da surpresa inicial, Daniel viu uma nova porta se abrir.  

Eu gostei porque minha idade estava avançada. Se eu fizesse uma serie só, na turma regular, continuaria atrasado. 

E o esforço trouxe resultados. Na sala, com outros estudantes de idades próximas e com trajetórias diversas, o sorriso e a participação tomaram conta de Daniel. O avô notou a mudança, e acredita que o neto passou a se engajar mais nas atividades propostas pela escola.

“Minha matérias preferidas são ciências e geografia, porque eu gosto de descobrir o mundo e o corpo humano. Eu quero ser bombeiro ou cirurgião bariátrico”, diz o adolescente.

Um novo olhar para a escola

A história de Daniel é uma em meio a tantas diferentes realidades dentro das turmas que desenvolvem propostas específicas para o enfrentamento da distorção idade-série. O apoio que o adolescente recebeu foi resultado da estratégia Trajetórias de Sucesso Escolar, que tem como foco o enfrentamento da cultura de fracasso escolar no Brasil. O objetivo é facilitar um diagnóstico amplo sobre a distorção idade-série no País – quando um estudante está com dois ou mais anos de  atraso escolar – e oferecer um conjunto de recomendações para o desenvolvimento de políticas educacionais que promovam o acesso, a permanência e aprendizagem desses estudantes. A proposta é contribuir com as redes públicas de ensino para que desenvolvam propostas e metodologias adequadas à realidade local, às necessidades e potencialidades desses estudantes.