É preciso encontrar e trazer para a escola os 2,8 milhões de crianças e adolescentes entre 4 e 17 anos de idade que não estão estudando. Essa é a quantidade de meninos e meninas que não têm direito à educação, segundo a PNAD 2015. Encontrar crianças e adolescentes que não frequentam as aulas, retirá-los de um contexto de exclusão e trazê-los para a escola só é possível por meio de uma ação que envolva diferentes áreas – educação, saúde, assistência social – e diferentes instituições – governo, sociedade civil e adolescentes, que vivenciam os desafios para permanecer na escola, aprender e se desenvolver. 

Para enfrentar a exclusão escolar, é preciso entender quem são os meninos e as meninas que estão fora da escola e os motivos que os(as) afastaram da sala de aula. A exclusão é maior entre as crianças de 4 e 5 anos de idade, que deveriam estar matriculadas na Educação Infantil (821.595 fora da escola), e os(as) adolescentes de 15 a 17 anos, que deveriam frequentar o Ensino Médio (1.593.151 excluídos). 

Nessa faixa da adolescência, muitos nem chegam a concluir o Ensino Fundamental. De acordo com o Censo Escolar 2016, o Brasil apresenta uma taxa de 12% de distorção idade-série para os anos iniciais do Ensino Fundamental e de 26% para os anos finais dessa etapa da educação – ou seja, um em cada cinco estudantes que já deveriam estar no Ensino Médio continua matriculado no Ensino Fundamental. No Ensino Médio, essa taxa de distorção chega a 28% – ou seja, quase três em cada dez estudantes dessa etapa de ensino apresentam dois ou mais anos de atraso escolar. Tanto pelos números absolutos quanto pelas causas que levam esses(as) adolescentes a estar fora da escola, essa faixa etária requer grande atenção: na transição para a vida adulta, sem ter realizado seu direito à educação, muitas dessas pessoas ingressam no mundo do trabalho em condições precárias.

Por que não estão na escola? Os motivos são diversos e incluem barreiras socioculturais, como discriminação racial, preconceito, bullying, homofobia e transfobia, exposição à violência e gravidez na adolescência, entre outras questões. Outras razões estão ligadas a barreiras econômicas, como a pobreza, que inclui o trabalho infantil e outras privações de direitos. Entram na lista também problemas relacionados ao abuso e à exploração sexual. Entre as barreiras relacionadas à oferta educacional estão a oferta de conteúdos desconectados da realidade dos alunos, a falta de valorização dos profissionais da educação, o número insuficiente de escolas, a falta de acessibilidade para estudantes com deficiência, e condições precárias de infraestrutura e de transporte escolar. As barreiras políticas, financeiras e técnicas tratam da insuficiência de recursos destinados à educação pública brasileira.

Superar cada uma dessas barreiras depende de um compromisso de todas as pessoas. Os(As) adolescentes podem contribuir para mobilizar suas escolas no enfrentamento da exclusão escolar deixando claro para os responsáveis quais as situações que os fizeram parar de estudar e que condições permitiriam que voltassem para a sala de aula. As escolas podem estar mais alertas sobre crianças e adolescentes que começam a faltar às aulas, e investir em um trabalho preventivo para evitar o abandono e o fracasso escolar. Além disso, as escolas sob coordenação da Secretaria de Educação podem abrir as portas para adolescentes que saíram da escola, para que construam juntos os caminhos para seu retorno à sala de aula.

 

Fonte: Publicação Cenários da exclusão escolar no Brasil (UNICEF, 2017).

 

Para saber mais, confira os materiais de referência ao final deste Desafio.

 

 

Inspiração – O projeto Virada Educação, realizado inicialmente em São Paulo, em 2014, e disseminado por diversos municípios brasileiros, tem mostrado como é possível repensar os territórios sob a perspectiva da educação, e assim contribuir para superar o grande desafio da exclusão escolar. A iniciativa, criada pelo coletivo Movimento Entusiasmo, consiste em definir uma série de ações para estimular um olhar educador, valorizando o potencial do território. O projeto é realizado com escolas públicas, espaços culturais e outros apoiadores, e requer alguns meses de preparação no território, buscando parcerias, mapeando interesses e talentos, para então organizar um ou mais dias de celebração, repletos de atividades para ocupar os territórios criativamente. As ações são organizadas em quatro categorias: 

  • Diálogos – rodas de conversa para aproximar a escuta sobre questões essenciais da educação;
  • Exibições – filmes, teatro, fotografia, música e muito mais;
  • Intervenções – ações artísticas capazes de mobilizar e provocar a reflexão entre participantes;
  • Trilhas e oficinas – atividades que promovem o aprendizado por meio de situações práticas e conectadas ao território.

 

Após a celebração, o território passa a contar com mais conhecimento sobre as trajetórias educativas presentes, o que pode ser utilizado para promover mudanças mais sustentáveis na educação, valorizando os saberes locais e propondo mudanças com o engajamento de gestores(as) de políticas públicas.

 

AÇÕES A SEREM DESENVOLVIDAS PELOS NÚCLEOS DE ADOLESCENTES

 

Atividade 6.1. Promover a Virada Educação

 

6.1.1 – Ação a ser realizada com o núcleo de adolescentes

 

Após conhecer os dados da exclusão escolar no Brasil, para que os(as) integrantes do núcleo conheçam e se inspirem com a possibilidade de ampliar os territórios educativos de seu município, propõe-se uma sessão de vídeos e de leitura do passo a passo da Virada Educação, seguida de um debate sobre como seria possível adaptar essa ação para o seu município. 

 

O passo a passo da Virada Educação foi registrado em um manual para inspirar outras Viradas pelo Brasil. Trechos ou o trailer do filme “Nunca me sonharam” também podem ser exibidos para inspirar o grupo. Veja nos materiais de referência deste Desafio.

 

6.1.2 – Ação de mobilização social

 

Os(As) adolescentes podem mapear na comunidade as pessoas ou instituições que podem apoiá-los(as) na Virada Educação, buscando parcerias para:

 

- Identificar um local onde possam acontecer oficinas, exibição de vídeo, oficinas artísticas, esportivas, pedagógicas, entre outras atividades. Esse local pode ser uma escola, um galpão ou uma praça, por exemplo. Os(As) adolescentes podem então, com o apoio do(a) mobilizador(a), conversar com pessoas responsáveis pelo espaço e organizar como funcionaria sua ocupação durante um ou dois dias de celebração.

 

- Mapear pessoas de diferentes perfis e idades que poderiam compartilhar seus diversos saberes em oficinas, apresentações e outras atividades, verificando a composição do município  por territórios educativos que podem ser desconhecidos para muita gente, e convidar essas pessoas a conduzir as atividades nos dias de celebração dos saberes.

 

- Definir no grupo de adolescentes quem poderia conduzir uma roda de conversa sobre retorno escolar com adolescentes que saíram da escola, ou que já pensaram em sair (por diversos motivos), a ser realizada nos dias de celebração dos saberes. Na roda, os(as) participantes podem responder a duas perguntas: 

 

  • Por que você está fora da escola, ou corre o risco de sair?
  • O que faria você voltar para a escola ou permanecer estudando?

 

Também é possível pensar em outros chamados para abordar a conversa sobre retorno escolar – por exemplo, convidar jovens que estão fora da escola para um diálogo sobre sonhos, para conversar sobre o que imaginam para seu futuro, e nessa conversa abordar o tema dos porquês de não estar na escola e sobre a possibilidade de voltar.  

 

- Definir uma pessoa responsável para fazer o relatório com as respostas dos(as) participantes da roda de conversa. 

 

- Ao fazer o mapeamento na comunidade, identificar adolescentes e jovens que saíram da escola ou correm o risco de sair, ou ainda que já pensaram em sair e convidá-los(as) para as rodas de conversa.

 

- Divulgar a ideia da Virada Educação no município, convidando adolescentes, jovens e outras pessoas para participar. Sugere-se o uso de comunicação comunitária (rádio, cartazes, panfletos) e das mídias sociais para convocar as pessoas.

 

- Realizar um ou dois dias de celebração com oficinas, apresentações culturais, campeonatos esportivos e a roda de conversa sobre retorno escolar, garantindo registros em foto, vídeo e relatórios. Também podem ser aproveitadas no relatório pequenas entrevistas com os(as) participantes.

 

- Atentar, quando da organização da atividade, para que esta seja uma ação inclusiva, que respeite e considere a diversidade humana. Por exemplo, pensar em espaços que sejam acessíveis a cadeirantes, considerar a representação de meninas e meninos, de crianças e adolescentes que vivem em comunidades mais afastadas, indígenas, quilombolas, entre outros grupos populacionais. 

 

6.1.3 – Ação a ser realizada com a gestão municipal

 

Os relatórios das rodas de conversa sobre retorno escolar podem ser organizados em diálogo com o(a) articulador(a) do Selo UNICEF no município, e apresentados à Secretaria de Educação. Os relatórios reunirão informações preciosas sobre os motivos da exclusão escolar no município. As pessoas responsáveis pela gestão da área de educação podem utilizar essas informações para traçar uma estratégia de retorno à escola, em colaboração com os(as) adolescentes, considerando as diferentes motivações: gravidez, necessidade de conciliar escola e trabalho, discriminação, violência no entorno ou local de moradia etc.

 

Atividade 6.2. Contribuir para a Busca Ativa Escolar

 

6.2.1 – Ação a ser realizada com o núcleo de adolescentes

 Após conhecer a realidade da exclusão escolar, com dados descritos neste material, os(as) adolescentes do núcleo de cidadania podem fazer uma roda de conversa sobre a realidade da educação em seu município. Para aquecer o debate, seguem sugestões de perguntas motivadoras:

 

  • O que existe em sua escola que motiva você a permanecer estudando?
  • Quais os desafios para você seguir firme nos estudos?
  • Para quê a escola prepara você?
  • Qual a importância de continuar estudando para o seu planejamento de futuro? 
  • Onde estão os(as) jovens que não puderam continuar estudando? Você os(as) conhece? Que histórias têm para contar?
  • Os motivos para que meninos e meninas estejam fora da escola são diferentes? Quais são?

 

Em seguida, podem conhecer a iniciativa da Busca Ativa Escolar, uma plataforma gratuita para ajudar os municípios a combater a exclusão escolar, desenvolvida pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) em parceria com a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), o Colegiado Nacional de Gestores Municipais de Assistência Social (Congemas) e o Instituto TIM. A intenção é apoiar os governos na identificação, no registro, no controle e no acompanhamento de crianças e adolescentes que estão fora da escola ou em risco de evasão. Por meio da Busca Ativa Escolar, municípios e estados terão dados concretos que possibilitarão planejar, desenvolver e implementar políticas públicas que contribuam para a inclusão escolar. Confira nos materiais de referência deste Desafio.

 

 6.2.2 – Ação a ser realizada com a gestão municipal

É a prefeitura do município que deve aderir à Busca Ativa Escolar. Os(As) adolescentes do núcleo podem formar uma comissão que ficará responsável por uma reunião junto à prefeitura ou à Secretaria de Educação ou de Assistência Social, para propor que o município formalize sua adesão à Busca Ativa Escolar. Se o município já fizer parte da iniciativa, o grupo de adolescentes pode combinar uma maneira de monitorar a implantação, e reforçar que os(as) integrantes do grupo conhecem por experiência própria os motivos da exclusão escolar, conforme ficou comprovado com os relatórios das rodas de conversa. O(A) articulador(a) do Selo UNICEF pode ajudar a fazer essa ponte entre a comissão de adolescentes e a gestão municipal.

 

6.2.3 – Ação de Mobilização Social

Após a reunião com gestores(as) de políticas públicas sobre a Busca Ativa Escolar, os(as) adolescentes do município podem acompanhar as ações, divulgando a iniciativa em sua comunidade, para garantir a colaboração de diferentes pessoas e instituições – líderes religiosos, associações de bairro, artistas etc. Para isso, podem utilizar a comunicação comunitária (cartazes, vídeos, rádio) e as mídias sociais. O mais bacana vai ser contar com este apoio para mobilizar todo o município a entender que o lugar de criança e de adolescente é na escola! E que não podemos, sob nenhuma hipótese, tornar o fracasso escolar algo natural! 

 

Materiais de referência do Desafio 6:

 

Publicação Cenários da exclusão escolar no Brasil (UNICEF, 2017): https://www.unicef.org/brazil/pt/cenario_exclusao_escolar_brasil.pdf 

 

Conheça também os resultados da pesquisa Dez Desafios do Ensino Médio no Brasil para garantir o direito de aprender de adolescentes de 15 a 17 anos (UNICEF, 2014), disponível em: https://www.unicef.org/brazil/pt/10desafios_ensino_medio.pdf

 

O documentário “Nunca me sonharam” pode ser uma grande fonte de inspiração para o grupo refletir sobre o valor da educação em seu município. Com duração de 1 hora e 24 minutos, e direção de Cacau Rohder, o filme traça um panorama sobre o Ensino Médio nas escolas públicas do Brasil sob diferentes pontos de vista, principalmente o dos estudantes. Isso é mostrado por meio de relatos de jovens, professores, diretores de escolas. Para agendar uma exibição do filme, você pode acessar a seguinte plataforma: http://www.videocamp.com/pt/movies/nuncamesonharam  

 

Materiais do projeto Virada Educação:

 

Sistematização do projeto: http://viradaeducacao.me/arquivos/livreto_virada_educacao_movimento_entusiasmo.pdf

 

Vídeos sobre a Virada Educação: 

Escola Pindorama: youtu.be/eJmydCMU8lo 

#ConsolaDance: youtu.be/0CYT06TRjQQ

Chamada 1: youtu.be/IXxDSR3nkSQ

Chamada 2: youtu.be/YXh30zoRyos

Chamada 3: youtu.be/lBPg4erSngk 

 

O site da Virada conta também com vídeos, links para entrevistas e outros materiais inspiradores:  http://viradaeducacao.me/

 

Iniciativa Busca Ativa Escolar: 

https://buscaativaescolar.org.br/downloads/unicef-busca-ativa-escolar-video-animacao.mp4